Missão em Honduras é "prova de fogo" para OEA
07/10 - 06:18 - BBC Brasil
BBC BRASIL
A chegada de uma missão oficial da Organização dos Estados Americanos (OEA) a Honduras, nesta quarta-feira, é vista por representantes do governo brasileiro como uma "prova de fogo" para a solução do impasse político no país, que já dura mais de cem dias.
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Este será o primeiro encontro oficial entre o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, e o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, desde que o presidente eleito, Manuel Zelaya, foi expulso do país.
Os dois se encontraram de forma secreta há alguns dias, em uma base militar em território hondurenho - mas não chegaram a discutir a restituição de Zelaya.
"No momento todas as fichas estão apostadas no encontro dessa quarta-feira", diz um diplomata brasileiro. "Há sinais de que estamos mais perto de um acordo e essa missão da OEA é certamente uma prova de fogo", diz.
Insulza chega a Tegucigalpa acompanhado por embaixadores da OEA, entre eles o representante brasileiro na instituição, Ruy Casaes. A missão conta ainda com representantes diplomáticos de dez países, sendo cinco chanceleres.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não acompanha a missão em Tegucigalpa. Segundo o Itamaraty, a participação do chanceler brasileiro "poderia se mostrar inapropriada", pois o Brasil está "diretamente envolvido" desde que Zelaya chegou embaixada brasileira.
"Preferimos deixar a missão para os países considerados mais neutros sob o ponto de vista do governo interino, como Costa Rica e El Salvador", disse um diplomata.
'Inegociável'
A expectativa do governo brasileiro e também da OEA é de que o Plano Arias, principal proposta de acordo sobre a mesa, possa ser modificado para facilitar um acordo.
Há pontos do plano, porém, que são considerados "inegociáveis". Em entrevista à BBC Brasil, o embaixador Casaes disse que a OEA descarta abrir mão da restituição de Zelaya ao poder, antes das eleições. Outro ponto essencial, segundo ele, é a anistia política.
A avaliação do governo é de que um "novo Plano Arias" depende basicamente de dois fatores: de uma maior predisposição de Micheletti em sair do impasse - pois estaria perdendo apoio interno - e também da "habilidade política" de Insulza.
"Estamos em um ponto das negociações em que a OEA tem papel crucial. Caberá ao Insulza saber costurar um acordo que seja palatável para as duas partes", diz uma fonte do Itamaraty, que considera o secretário-geral da OEA um político "extremamente habilidoso".
Além disso, também é forte no Itamaraty a percepção de um "recuo" do governo interino, como por exemplo, no fato de Micheletti ter admitido o "erro" de expulsar Zelaya do país e ter suspendido o estado de sítio.
Uma das preocupações do governo brasileiro é com a proximidade das eleições presidenciais em Honduras, marcadas para o dia 29 de novembro.
Sem um acordo nas próximas semanas, o novo presidente eleito não será reconhecido pela comunidade internacional - ou pelo menos, por um grande número de países, entre eles o Brasil -, colocando Honduras em um estado de total isolamento.
'Afronta'
Há cerca de dez dias, uma missão precursora da OEA foi impedida de entrar em Honduras, mesmo depois de receber o aval do governo interino.
O episódio foi considerado uma "afronta" à instituição, segundo um representante do governo brasileiro.
De acordo com essa mesma fonte, a viagem de Insulza a Tegucigalpa estava condicionada a uma melhoria do cenário político em Honduras, ou seja, a um ambiente mais propício a um acordo.
"O objetivo principal é um acordo em Honduras. Mas estamos falando também do prestígio da OEA, que não quer se ver desmoralizada", diz o diplomata.
O embaixador Ruy Casaes disse que o papel da Organização também está "em jogo" com essa missão. Na semana passada, Casaes disse que a OEA estava "caminhando cada vez mais para um absoluto estado de irrelevância" no caso hondurenho.
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009
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